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Há alguns anos, os cartórios, por força de lei (1) e por questões de segurança, foram obrigados a manter cópias de seus documentos e imagens em formato eletrônico fora do ambiente da serventia, ou seja, backups externos. Dentre as possibilidades técnicas possíveis, uma solução economicamente viável foi a utilizar recursos da “Nuvem” – “Backup na Nuvem” (2).
Desde então, novas funcionalidades foram adicionadas e tem havido um crescimento de soluções de backup na “Nuvem” no mercado para o atendimento à Recomendação nº 09 do CNJ (1). Entretanto, o conceito de “Nuvem” vai muito além do backup e envolve uma variada gama de opções.
O objetivo deste artigo é explicar conceitos básicos de Processamento em Nuvem ou Computação na Nuvem (do inglês “Cloud Computing”), pois, sem dúvida, este é um tema que tem crescente interesse por parte dos negócios em face à potencial economia e facilidade de utilização.
De forma simplista, o conceito de “Nuvem” implica que a organização não necessita comprar e gerenciar hardware (computadores) e software pois esses recursos ficariam disponíveis em centros de dados (data center) e o acesso aos mesmos se daria via internet. O termo “Nuvem” advém do fato de, graficamente, a Internet ser representada por uma nuvem. As primeiras referências a Nuvem datam de 1994 (3) e 1996 (4) mas realmente o termo ganhou força ao redor de 2006 com Eric Schmidt da Google (5).
Existem diferentes modelos de uso de serviços na Nuvem, e desta forma é importante conceituá-los antes de vermos a aplicabilidade dentro do universo dos cartórios:
Modelo “Infraestrutura como Serviço” ou IaaS (do inglês – Infrastructure-as-a-Service): Nesse modelo os elementos de infraestrutura tais como servidores, máquinas virtuais, desktops, redes, sistemas operacionais etc. são as peças que compõem a solução. De uma forma simplificada é como se alugássemos todos a infraestrutura que estaria disponível para uso.
Modelo “Plataforma como Serviço” ou PaaS (do inglês – Platform-as-a-Service): Nesse modelo os elementos de infraestrutura e os aplicativos básicos tais como sistemas operacionais, banco de dados e antivírus estão disponíveis para o uso sem preocupações com seu gerenciamento (p.e. atualizações desses software). Nesse modelo é como se alugássemos o ambiente (hardware e software) e a preocupação se restringiria aos aplicativos específicos do negócio.
Modelo “Software como Serviço” ou SaaS (do inglês – Software-as-a-Service): Nesse modelo, além do que é disponibilizado nos modelos anteriores, os aplicativos de negócio também são gerenciados na nuvem. O usuário ou cliente não necessita de conhecimento técnico para gerenciar o negócio. Exemplos desse modelo vão desde de aplicações do tipo Skype ou Whatsapp para comunicação, até exemplos mais complexos como softwares de gestão empresarial (ex: Salesforce).
Computação na Nuvem oferece ambiente:
• Gerenciável – Ou seja, o fornecedor da plataforma de Nuvem irá gerenciar os recursos disponibilizados;
• Sob demanda – Ou seja, o cliente ou usuário utiliza e paga pela quantidade de recursos usados e pelo tempo de uso, ou ainda no conceito pagamento pela utilização ou uso (“pay-as-you-go”);
• Pública ou Privada – Pública no sentido de atender quaisquer clientes seguindo todas as premissas de confidencialidade e segurança, por exemplo: Azure da Microsoft, AWS da Amazon, Google Cloud da Google, etc. As Privadas referem-se à nuvens criadas para um uso especifico, por exemplo: alguns bancos e instituições financeiras criaram datacenters que funcionam como nuvens privadas. Conceito idêntico se aplica a nuvens criadas por governos.
Vantagens & Desvantagens
A Computação na Nuvem possui claras vantagens em diversos aspectos, sendo o mais importante o econômico-financeiro. O aspecto econômico-financeiro não é de fácil análise pois depende do tipo de negócio que a organização possui (6). Existem diversos arcabouços econômico-financeiros (7), (8) e (9) que servem de orientação para ajudar as organizações no processo decisório de migração para Nuvem.
Uma das regras mais simples que ajuda a decidir para a migração para Nuvem é o tempo de uso dos recursos tecnológicos. Por exemplo: negócios que operam das 8:00 da manhã até o final da tarde podem beneficiar-se devido aos seguintes aspectos:
• Investimento inicial na aquisição de máquina e softwares passa a ser desnecessário;
• A versatilidade do ambiente sob demanda da nuvem suportará picos de processamento que ocorrem ocasionalmente 1 ou 2 vezes ao dia e não será necessário pagar pelo dimensionamento máximo durante todo o período de uso.
A ociosidade (no nosso exemplo, das 18:00h até as 8:00h da manhã seguinte) o sistema não realiza nenhum processamento e, portanto, no modelo em Nuvem o usuário não paga pelo que não utiliza. Estes itens podem significar uma economia considerável levando-se em conta uma solução IaaS. A economia seria ainda maior para os modelos PaaS ou SaaS.
A tabela a seguir sintetiza de forma simplista as Vantagens & Desvantagens em se adotar uma solução usando Computação na Nuvem.
Vantagens | Desvantagens |
Baixo investimento inicial | Risco de aumento do custo operacional |
Fácil crescimento da capacidade | Dependência dos fornecedores |
Pague pelo que se usa | Privacidade |
Contrato regido por SLAs | Dependência de conexão com a Internet |
Resumo
Se o negócio não tem conexão direta com tecnologia e nem há interesse direto em entender as idiossincrasias dos sistemas computacionais atuais, evidentemente a “Nuvem” é uma solução atrativa. No caso dos cartórios isto é verdadeiro, pois, do que interessa aos cartórios ter que atualizar versões de aplicativos, servidores de banco de dados, sistemas operacionais, firewalls, antivírus, editores de textos, planilhas, para citar apenas alguns? Aliado a isso, o cartório é um negócio que opera em ciclos diurnos de, em geral, 10 horas. A grande dificuldade para a viabilidade da “Nuvem” no ambiente dos cartórios recai sobre a disponibilidade e garantia da qualidade das conexões à internet. Em grandes centros urbanos essa realidade está mais próxima uma vez que as operadoras tendem a oferecer serviços de conexão com garantia de qualidade e disponibilidade. Entretanto, esse ainda não é um padrão nacional. De uma forma ou de outra, a conexão à internet é ainda o maior empecilho para a implementação de um modelo totalmente baseado na “Nuvem”, pois, sendo o cartório um serviço público, seria impensável ter sua operação inviabilizada ou prejudicada devido a problemas de conexão com a internet, ocasionando um desserviço à sociedade.
Pensar além dos processos tradicionais deveria ser a nova orientação dos notários e registradores num cenário de um mundo com velocidade de mudanças cada vez mais rápidas. O cenário atual de tecnologia tem evoluído rapidamente e, portanto, é interessante manter-se atualizado das evoluções no cenário de disponibilidade e qualidade dos serviços de internet, pois elas poderão viabilizar o uso mais intenso da “Nuvem” trazendo vantagens econômico-financeiros assim como uma melhoria no serviço prestado pelo cartório a seus usuários.
Para pensar: O segredo da mudança é focar toda sua energia, não na luta contra o velho, mas sim na construção do novo.Sócrates
Bibliografia
1. Conselho Nacional de Justiça. Recomendação N° 09. CNJ. [Online] 07 de Março de 2013. http://www.cnj.jus.br///images/atos_normativos/recomendacao/recomendacao_9_07032013_25042013163654.pdf.
2. SiplanControl-M. SiplanControlM. Backup Seguro na Nuvem. [Online] 01 de 01 de 2009. http://www.siplancontrolm.com.br/produtos.aspx?PkId=85.
3. Business Insider – Matt Weinberger. Enterprise. Business Insider. [Online] 12 de Março de 2015. http://www.businessinsider.com/why-do-we-call-it-the-cloud-2015-3.
4. United States Patent and Trademark Office. Cloud Computing. [Online] 1996. http://tsdr.uspto.gov/#caseNumber=75291765&caseType=SERIAL_NO&searchType=statusSearch.
5. IT World – Kevin Fogarty. Where did cloud come from? CORE IT. [Online] 14 de Maio de 2012. http://www.itworld.com/article/2726701/cloud-computing/where-did–cloud–come-from-.html.
6. Forbes – Derrick Haris. The Economics of Cloud Computing Are, In A Word: Confusing. CIO Network. [Online] https://www.forbes.com/sites/ciocentral/2015/06/10/the-economics-of-cloud-computing-are-in-a-word-confusing/#69195f7f7d50.
7. Rackspace. Cloudonomics – The Economics of Cloud Computing. Rackspace. [Online] 2012. http://broadcast.rackspace.com/hosting_knowledge/whitepapers/Cloudonomics-The_Economics_of_Cloud_Computing.pdf.
8. HBR – Drue Reeves e Daryl Plummer. The Truth About Cloud Economics. HBR – Budgeting. [Online] 13 de Abril de 2012. https://hbr.org/2012/04/the-truth-about-cloud-economic.
9. KPMG. Cloud Economics: Making the Business Case for Cloud – An Economic Framework for Decision Making. KPMG. [Online] https://assets.kpmg.com/content/dam/kpmg/pdf/2015/11/cloud-economics.pdf.
Autor: Carlos Hulot
É graduado em Física pela Universidade de São Paulo e possui título de Ph.D. em Ciência da Computação e Eletrônica pela Universidade de Southampton no Reino Unido. Ele atua na indústria de tecnologia há quase 30 anos, tendo passagens por empresas como Royal Philips Eletrocnics, PricewaterhouseCoopers, Itaú e Microsoft, além de ter participado de várias startups. A sua experiência profissional é bem diversificada, incluindo atuações em desenvolvimento de sistemas de software, gestão de projetos, gestão de produtos e marketing. É Diretor de Sistemas e Produtos da SiplanControl-M – empresa especializada em soluções tecnológicas para cartórios. carlos.hulot@spcm.com.br