Computação na nuvem

Computação na nuvem

27 de dezembro de 2017
Tecnologia para Cartórios

Tempo estimado de leitura: 10 minuto(s)

Há alguns anos, os cartórios, por força de lei (1) e por questões de segurança, foram obrigados a manter cópias de seus documentos e imagens em formato eletrônico fora do ambiente da serventia, ou seja, backups externos. Dentre as possibilidades técnicas possíveis, uma solução economicamente viável foi a utilizar recursos da “Nuvem” – “Backup na Nuvem” (2).

Desde então, novas funcionalidades foram adicionadas e tem havido um crescimento de soluções de backup na “Nuvem” no mercado para o atendimento à Recomendação nº 09 do CNJ (1). Entretanto, o conceito de “Nuvem” vai muito além do backup e envolve uma variada gama de opções.

O objetivo deste artigo é explicar conceitos básicos de Processamento em Nuvem ou Computação na Nuvem (do inglês “Cloud Computing”), pois, sem dúvida, este é um tema que tem crescente interesse por parte dos negócios em face à potencial economia e facilidade de utilização.

De forma simplista, o conceito de “Nuvem” implica que a organização não necessita comprar e gerenciar hardware (computadores) e software pois esses recursos ficariam disponíveis em centros de dados (data center) e o acesso aos mesmos se daria via internet. O termo “Nuvem” advém do fato de, graficamente, a Internet ser representada por uma nuvem. As primeiras referências a Nuvem datam de 1994 (3) e 1996 (4) mas realmente o termo ganhou força ao redor de 2006 com Eric Schmidt da Google (5).

Existem diferentes modelos de uso de serviços na Nuvem, e desta forma é importante conceituá-los antes de vermos a aplicabilidade dentro do universo dos cartórios:

Modelo “Infraestrutura como Serviço” ou IaaS (do inglês – Infrastructure-as-a-Service): Nesse modelo os elementos de infraestrutura tais como servidores, máquinas virtuais, desktops, redes, sistemas operacionais etc. são as peças que compõem a solução. De uma forma simplificada é como se alugássemos todos a infraestrutura que estaria disponível para uso.

Modelo “Plataforma como Serviço” ou PaaS (do inglês – Platform-as-a-Service): Nesse modelo os elementos de infraestrutura e os aplicativos básicos tais como sistemas operacionais, banco de dados e antivírus estão disponíveis para o uso sem preocupações com seu gerenciamento (p.e. atualizações desses software). Nesse modelo é como se alugássemos o ambiente (hardware e software) e a preocupação se restringiria aos aplicativos específicos do negócio.

Modelo “Software como Serviço” ou SaaS (do inglês – Software-as-a-Service): Nesse modelo, além do que é disponibilizado nos modelos anteriores, os aplicativos de negócio também são gerenciados na nuvem. O usuário ou cliente não necessita de conhecimento técnico para gerenciar o negócio. Exemplos desse modelo vão desde de aplicações do tipo Skype ou Whatsapp para comunicação, até exemplos mais complexos como softwares de gestão empresarial (ex: Salesforce).

Computação na Nuvem oferece ambiente:

• Gerenciável – Ou seja, o fornecedor da plataforma de Nuvem irá gerenciar os recursos disponibilizados;

• Sob demanda – Ou seja, o cliente ou usuário utiliza e paga pela quantidade de recursos usados e pelo tempo de uso, ou ainda no conceito pagamento pela utilização ou uso (“pay-as-you-go”);

• Pública ou Privada – Pública no sentido de atender quaisquer clientes seguindo todas as premissas de confidencialidade e segurança, por exemplo: Azure da Microsoft, AWS da Amazon, Google Cloud da Google, etc. As Privadas referem-se à nuvens criadas para um uso especifico, por exemplo: alguns bancos e instituições financeiras criaram datacenters que funcionam como nuvens privadas. Conceito idêntico se aplica a nuvens criadas por governos.

Vantagens & Desvantagens

A Computação na Nuvem possui claras vantagens em diversos aspectos, sendo o mais importante o econômico-financeiro. O aspecto econômico-financeiro não é de fácil análise pois depende do tipo de negócio que a organização possui (6). Existem diversos arcabouços econômico-financeiros (7), (8) e (9) que servem de orientação para ajudar as organizações no processo decisório de migração para Nuvem.

Uma das regras mais simples que ajuda a decidir para a migração para Nuvem é o tempo de uso dos recursos tecnológicos. Por exemplo: negócios que operam das 8:00 da manhã até o final da tarde podem beneficiar-se devido aos seguintes aspectos:

• Investimento inicial na aquisição de máquina e softwares passa a ser desnecessário;

• A versatilidade do ambiente sob demanda da nuvem suportará picos de processamento que ocorrem ocasionalmente 1 ou 2 vezes ao dia e não será necessário pagar pelo dimensionamento máximo durante todo o período de uso.

A ociosidade (no nosso exemplo, das 18:00h até as 8:00h da manhã seguinte) o sistema não realiza nenhum processamento e, portanto, no modelo em Nuvem o usuário não paga pelo que não utiliza. Estes itens podem significar uma economia considerável levando-se em conta uma solução IaaS. A economia seria ainda maior para os modelos PaaS ou SaaS.

A tabela a seguir sintetiza de forma simplista as Vantagens & Desvantagens em se adotar uma solução usando Computação na Nuvem.

Vantagens Desvantagens
Baixo investimento inicial Risco de aumento do custo operacional
Fácil crescimento da capacidade Dependência dos fornecedores
Pague pelo que se usa Privacidade
Contrato regido por SLAs Dependência de conexão com a Internet

 

 

 

 

Resumo

Se o negócio não tem conexão direta com tecnologia e nem há interesse direto em entender as idiossincrasias dos sistemas computacionais atuais, evidentemente a “Nuvem” é uma solução atrativa. No caso dos cartórios isto é verdadeiro, pois, do que interessa aos cartórios ter que atualizar versões de aplicativos, servidores de banco de dados, sistemas operacionais, firewalls, antivírus, editores de textos, planilhas, para citar apenas alguns? Aliado a isso, o cartório é um negócio que opera em ciclos diurnos de, em geral, 10 horas. A grande dificuldade para a viabilidade da “Nuvem” no ambiente dos cartórios recai sobre a disponibilidade e garantia da qualidade das conexões à internet. Em grandes centros urbanos essa realidade está mais próxima uma vez que as operadoras tendem a oferecer serviços de conexão com garantia de qualidade e disponibilidade. Entretanto, esse ainda não é um padrão nacional. De uma forma ou de outra, a conexão à internet é ainda o maior empecilho para a implementação de um modelo totalmente baseado na “Nuvem”, pois, sendo o cartório um serviço público, seria impensável ter sua operação inviabilizada ou prejudicada devido a problemas de conexão com a internet, ocasionando um desserviço à sociedade.

Pensar além dos processos tradicionais deveria ser a nova orientação dos notários e registradores num cenário de um mundo com velocidade de mudanças cada vez mais rápidas. O cenário atual de tecnologia tem evoluído rapidamente e, portanto, é interessante manter-se atualizado das evoluções no cenário de disponibilidade e qualidade dos serviços de internet, pois elas poderão viabilizar o uso mais intenso da “Nuvem” trazendo vantagens econômico-financeiros assim como uma melhoria no serviço prestado pelo cartório a seus usuários.

Para pensar: O segredo da mudança é focar toda sua energia, não na luta contra o velho, mas sim na construção do novo.Sócrates

Bibliografia
1. Conselho Nacional de Justiça. Recomendação N° 09. CNJ. [Online] 07 de Março de 2013. http://www.cnj.jus.br///images/atos_normativos/recomendacao/recomendacao_9_07032013_25042013163654.pdf.
2. SiplanControl-M. SiplanControlM. Backup Seguro na Nuvem. [Online] 01 de 01 de 2009. http://www.siplancontrolm.com.br/produtos.aspx?PkId=85.
3. Business Insider – Matt Weinberger. Enterprise. Business Insider. [Online] 12 de Março de 2015. http://www.businessinsider.com/why-do-we-call-it-the-cloud-2015-3.
4. United States Patent and Trademark Office. Cloud Computing. [Online] 1996. http://tsdr.uspto.gov/#caseNumber=75291765&caseType=SERIAL_NO&searchType=statusSearch.
5. IT World – Kevin Fogarty. Where did cloud come from? CORE IT. [Online] 14 de Maio de 2012. http://www.itworld.com/article/2726701/cloud-computing/where-did–cloud–come-from-.html.
6. Forbes – Derrick Haris. The Economics of Cloud Computing Are, In A Word: Confusing. CIO Network. [Online] https://www.forbes.com/sites/ciocentral/2015/06/10/the-economics-of-cloud-computing-are-in-a-word-confusing/#69195f7f7d50.
7. Rackspace. Cloudonomics – The Economics of Cloud Computing. Rackspace. [Online] 2012. http://broadcast.rackspace.com/hosting_knowledge/whitepapers/Cloudonomics-The_Economics_of_Cloud_Computing.pdf.
8. HBR – Drue Reeves e Daryl Plummer. The Truth About Cloud Economics. HBR – Budgeting. [Online] 13 de Abril de 2012. https://hbr.org/2012/04/the-truth-about-cloud-economic.
9. KPMG. Cloud Economics: Making the Business Case for Cloud – An Economic Framework for Decision Making. KPMG. [Online] https://assets.kpmg.com/content/dam/kpmg/pdf/2015/11/cloud-economics.pdf.

 

Autor: Carlos Hulot
É graduado em Física pela Universidade de São Paulo e possui título de Ph.D. em Ciência da Computação e Eletrônica pela Universidade de Southampton no Reino Unido. Ele atua na indústria de tecnologia há quase 30 anos, tendo passagens por empresas como Royal Philips Eletrocnics, PricewaterhouseCoopers, Itaú e Microsoft, além de ter participado de várias startups. A sua experiência profissional é bem diversificada, incluindo atuações em desenvolvimento de sistemas de software, gestão de projetos, gestão de produtos e marketing. É Diretor de Sistemas e Produtos da SiplanControl-M – empresa especializada em soluções tecnológicas para cartórios. carlos.hulot@spcm.com.br

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